Aaron Jones: Uma mensagem para Green Bay
"Sem G no capacete no domingo, sempre tem um no meu coração."
Às vésperas do primeiro confronto de divisão da temporada, o Packers irá reencontrar um rosto bem conhecido. O RB Aaron Jones, que hoje joga pelo Vikings, teve sua carreira toda em Green Bay anteriormente. Pensando no encontro, o atleta enviou uma mensagem para o Time, cidade e os fãs.
O texto foi publicado no The Players Tribune, o portal que reúne diversos textos de atletas dos mais variados esportes.
Confira abaixo a tradução da matéria:
É engraçado como grande parte da vida é sobre as pessoas te verem ou não. Crescendo, e querendo fazer sucesso como jogador de futebol, eu tinha todas essas pessoas basicamente me dizendo que eu não era nada especial. Saindo do ensino médio, eu só tinha duas ofertas de faculdade. Indo para o draft, esperei quase 200 escolhas para meu nome ser chamado. Então, quando finalmente fui draftado, acho que há uma parte de mim que imaginou que seria o mesmo na NFL: mais pessoas que simplesmente enxergam além de mim, ou que me veem como nada em que vale a pena investir.
Depois me tornei um Green Bay Packer.
Lembro-me de um momento no início do acampamento da minha temporada de novato. Os Packers tinham recrutado três running backs em 2017, e os recebedores começaram a fazer "apostas" sobre qual de nós sairia por cima. Obviamente, muitos caras tinham Jamaal (Willams), já que ele foi o mais bem escolhido. Então, um dia no Training Camp, Davante (Adams) veio até mim. Ele é o recebedor nº 1, certo? No seu quarto ano e prestes a fazer um Pro Bowl. Ele é o cara naquela sala — e ele vem até mim na lateral, eu nem sei por quê, e diz: "Você é o meu CARA nesta corrida". Eu nem consigo dizer o que isso fez por mim, honestamente. Foi tipo, “OK, Davante Adams acredita em mim??” Significou muito.
Também me lembro da primeira vez que joguei um snap ofensivo — foi na Semana 4 contra Chicago, no Lambeau Field. Nossos dois running backs principais machucaram, então só restava eu e nosso fullback. Corro para o campo e, quando entro no grupo, é uma loucura: Aaron Rodgers, ele apenas olha para mim e diz: "Ei. Sou um dos seus maiores fãs em toda essa organização. É a sua hora. Sua, agora mesmo." Acabei marcando e vencemos o jogo.
Nas semanas seguintes, os dois principais backs ainda estavam fora e eu joguei muito bem. Logo eles ficaram saudáveis e voltei a ter menos oportunidades. Na minha cabeça, pensei, “tive um bom momento. Talvez tenha acabado”. Mas então eu nunca vou esquecer que houve essa jogada, mais tarde na temporada — e do nada, A-Rod pede tempo, vira para a linha lateral e grita: "EU QUERO 33 NO JOGO!!! EU QUERO 33 NO JOGO!!! 33!!! AGORA!!!" Eu estou lá, estou olhando para minha camisa... E eu estou tipo, “Oh, espere. Eu tenho 33. Esse sou EU”. Eu nem lembro qual foi a jogada, ou o que aconteceu nela, mas eu sei o quão bom foi. Foi esse lembrete de que eu estava lá por uma razão, sabe o que quero dizer? Um dos melhores QBs que já existiu está realmente vendo algo em mim.
Não foram apenas meus companheiros de equipe que me fizeram sentir visto em Green Bay — foram nossos fãs também. Especialmente naqueles primeiros anos, quando eu estava tentando fazer meu nome na liga, acho que as pessoas começaram a perceber que coisas boas aconteceriam quando eu tivesse a bola, e elas queriam que eu me envolvesse mais. Então, elas começaram a postar mensagens com a hashtag #FREEAARONJONES. Eu sei que é apenas uma hashtag, mas não vou mentir, isso foi legal. Toda vez que eu via isso nas minhas menções, isso me assegurava de que eu não estava passando despercebido. Nossos fãs entendiam o quanto eu estava trabalhando duro para fazer as coisas acontecerem, e eu me alimentava disso.
Também sou muito grato à organização dos Packers e à maneira como eles confiaram em mim como pessoa. Um dos maiores erros que cometi foi como novato: fui autuado por dirigir sob efeitos de substâncias e suspenso pela liga no início do meu segundo ano. Fiquei muito envergonhado depois que isso aconteceu. Dizem que você representa o G o tempo todo, e eu não cumpri minha parte nisso. Senti que decepcionei todos que me deram uma chance como uma escolha de quinta rodada — e para um cara como eu, que ainda não estava estabelecido, muitos times poderiam ter dito "vamos cortá-lo". Definitivamente poderia ter sido de qualquer maneira... Mas os Packers me apoiaram. A mentalidade deles era: “Esse erro não é você. É só você se não aprender com ele”. Eles garantiram que eu andasse pelo nosso prédio com a cabeça erguida, mesmo quando estava me sentindo muito mal.
Mike Roemer/AP Images
Então, na primavera de 2021, dois eventos muito diferentes aconteceram — e ambos mudaram minha vida para sempre.
O primeiro aconteceu em 26 de março: assinei um segundo contrato com os Packers. Quatro anos, 48 milhões. Eu estava no meu contrato de novato até então, e não tinha crescido com dinheiro, então foi um grande momento. Foi a sensação de segurança para minha família, e saber que eles sempre serão cuidados. Foi também a sensação de validação pelo trabalho que eu tinha feito — que todas aquelas pessoas que duvidaram de mim tinham sido provadas erradas.
No centro de ambos os sentimentos estava meu pai. Ele foi a maior influência na minha vida, de longe, em termos de quem me tornei como jogador de futebol e como homem. Foi ele quem me fez apaixonar pelo futebol, ele foi meu treinador, meu maior apoiador, meu melhor amigo e, claro, ele também era apenas meu pai. Ele era um fã ferrenho dos Cowboys (você sabe o tipo)... Porem assim que fui selecionado por Green Bay, nada disso importou. Você nunca mais veria uma cor dos Cowboys em nossa casa. Era verde escuro, dourado queijo, tudo dos Packers. Ele ia a todos os jogos — todos eles. Durante o pré-jogo, ele se certificava de estar na end zone onde estávamos nos aquecendo. Eu ia encontrá-lo antes do pontapé inicial e apertava sua mão, então ele me beijava na testa e me dizia o quão orgulhoso ele estava. "Vá arrasar, será o seu dia". Era assim que ele deixava.
Então é difícil colocar em palavras as emoções que eu estava passando quando, menos de duas semanas depois de assinar meu novo contrato, meu pai faleceu. Aconteceu praticamente do nada: ele pegou COVID, e houve complicações, aconteceu muito rápido. Um dia eu estava com minha família em El Paso para comemorar que os termos do novo contrato foi aceito... E quando eu estava em Green Bay para realmente assinar, ele estava no hospital. Onze dias depois, em 6 de abril, ele se foi.
Ele faleceu em casa, que era o que ele queria e algo que me confortava muito. Meus pais serviram no exército e foram para as guerras várias vezes. Sempre que meu pai estava fora, ele sabia que Alvin, Chelsirae e eu estávamos preocupados com ele — então ele nos dizia: "Estou voltando para casa, para vocês. Estou voltando para casa." Estou feliz que ele pôde voltar para casa por nós uma última vez.
Cortesia de Aaron Jones
Acho que é uma história pesada para colocar em uma carta como essa... Talvez seja pesada demais, não sei. Mas eu queria compartilhar com todos vocês. Porque quando penso nos meus sete anos em Green Bay, a coisa que provavelmente ficará comigo é a maneira como os Packers estavam lá por mim quando perdi meu pai.
Essa é a coisa mais difícil que já passei na minha vida inteira, e passei por isso enquanto nos preparávamos para uma temporada em que o objetivo era o Super Bowl. Eu sabia que todos estavam contando comigo para dar o meu melhor — o que é muito para carregar quando você está sofrendo por um ente querido. Os Packers me ajudaram a carregar essa dor o máximo que puderam. Muitos dos meus companheiros de equipe me ajudaram e me fizeram sentir essa fraternidade. No funeral, eu honestamente não conseguia acreditar, LaFleur voou até o Texas. Brian Gutekunst (nosso GM) e Ben Sirmans (nosso treinador de running backs) também estavam lá. Dizer que eles não precisavam fazer isso é um eufemismo... e eu sei que nunca poderia retribuí-los em um campo de futebol. Então, direi apenas: "Obrigado".
Essa é a maior coisa que eu quero escrever aqui, não apenas para a organização dos Packers, mas realmente para toda a Green Bay. Obrigado. Vai ser estranho estar naquela linha lateral visitante pela primeira vez, e estar do outro lado dessa coisa da NFC North em geral — mas é TUDO amor, e é muita gratidão. Obrigado por "apostar" em mim, correr comigo, usar hashtags para mim e tudo mais.
Obrigado por me VER.
"Sem G no capacete no domingo, sempre tem um no meu coração."
Traduzido e adaptado por: Victor D Franco.
Fonte: Players Tribune